O caminho das pedras




Na frente da chácara um novo caminho surgiu. As pessoas agora andam no caminho das pedrinhas. Até na sombra estamos juntos.

Os jardins transplantados






Várias plantas compõem o jardim. Algumas delas resistem por gerações. Outras chegaram recentemente. De qualquer maneira, na primavera todas são tratadas com carinho pela dama da casa. As mãos femininas tratam melhor as pétalas delicadas.


O fim da tarde





Todas as horas são boas por aqui. A chácara é incrivelmente bonita. De noite, no infinito silêncio das horas, escuto meu coração. De manhã, a correria da bicharada em busca de alimento. No fim da tarde, o momento mais belo do dia. É nesse momento em que geralmente mais aproveitamos a natureza. Os meninos vieram da escola. Eu ainda em casa, me preparando para a noite de aulas.

Ninhos naturais e ninhos artificiais



























A partir de agosto começam as intensas revoadas dos pássaros. Em dois lugares sempre há nidificação: na árvore junto da estrada e no ninho posto na parede próxima ao nosso quarto. No ninho natural, quem sempre faz ninho lá é o casal de pica-pau-verde-barrado (do topete vermelho, Colaptes melanochlorus). Não sei se é o mesmo casal que volta todo ano, ou se são os seus filhos que regressam no começo da primavera. Já no ninho junto à casa, quem sempre dá o ar da graça nidificando duas ou três vezes na estação quente, são os passarinhos marrons que até hoje não consegui identificar.

Fronteiras e impermanências















Outro dia, na entrada da casa, choveu.
Chuva dos dois lados da fronteira.
Reino de Castela e Lusitânia.
A calçada e o abrupto começo da natureza.

A chuva evaporou
e a folhagem ficou mais verde,
a tal ponto que meus olhos embaçaram....

Tudo ficou diferente.
O que era, deixou de ser.
E tudo tornou-se.

Anacauíta















Esta anacauíta foi plantada pelo Álvaro. Junto dela, o umbu. Atrás dela, a horta. Atrás do ângulo do fotógrafo, mais três anacauítas. Pequenas ainda, mas promissoras. Todas elas plantadas por mim, com o objetivo de tapar as ruínas da casa antiga, com o verde frondoso desta árvore, que possui uma resina medicinal incrível. Lembro-me dos chás da minha avó, que administrava tal medicamento para os males do peito.
OBS - 1: No Liber Herbarum Minor aparecem os outros nomes da planta, tais como, a aroeira. Não esquecendo também que desde o período colonial, os jesuítas usavam o referido bálsamo nas populações das missões, para fins mil.... na cura de todos os males..... do corpo e da alma....
OBS - 2: Outro dia alguém perguntou por onde andava o Álvaro, e eu respondi que estava em Rio Grande. Contudo, a resposta mais pré-socrática possível seria.... "na anacauíta.... assim como ela, indissociavelmente, está nele"..... e assim, sucessivamente...... tudo em todos.... e todos em tudo.....

A praga do milharal

















Recentemente aconteceu um episódio no mundo das celebridades. A atriz Débora Secco estava mantendo um relacionamento com Falcão (vocalista da banda O Rappa), e o romance deles acabou, motivado por uma terceira pessoa. Na época a imprensa viu várias vezes o referido vocalista com a cantora Maria Rita. Ao ser entrevistada sobre o que achava da proximidade da filha da Elis, Débora deu o seguinte comentário: "A Maria Rita, irrita!"..... verdade seja dita..... irritando ou não, Maria Rita levou o moço pra casa dela...... e o que isso tem de relação com a chácara????....... o fato é que a Débora nunca acordou com a fuzarca do bando das verdinhas aí de cima...... elas sim é que irritam!!!..... principalmente se existe eucalipto para fazer ninho nas proximidades..... não bastasse o barulho, não há milharal que sobreviva ao apetite voraz delas..... eu mesmo, cansei de plantar milho...... elas devoram tudo que encontram....... comem até as pêras velhas que eu só consigo quebrar com martelo...... em contrapartida, hoje em dia plantamos cada vez mais abóboras...... sei que elas conseguem quebrar, mas para minha sorte, não são do agrado delas.....



























A pereira não dá mais frutos comestíveis. Agora só há um frutinho pequeno e duro, que somente as caturritas (Myiopsitta monachus) conseguem quebrar. Por outro lado, as mais ou menos 10 árvores da espécie que ainda sobrevivem na chácara, estão com floradas mais intensas a cada ano. A gurizada não gosta muito desta árvore, porque não é fácil de subir, como na anacauíta, porém, a cabra adora se deitar na sombra dela.

A dupla maçônica


























No "pátio" (se podemos considerar que há um pátio numa chácara), perto da porta da cozinha, temos dois pés de romã. Antigas desde a época em que cheguei, no final da década de 90. Mas ainda vigorosas, principalmente depois que removi a praga da erva-de-passarinho que sugava todo o seu brilho. Poucos dias atrás, consegui fotografar dois momentos belos.... primeiramente os brotos ..... depois, a flor vermelha..... aliás, nunca havia notado tanta flor num curto período...... acho que os canteiros novos colocados no entorno prendem mais os nutrientes quando a chuva chega..... e.... já ia esquecendo..... segundo consta as duas árvores foram plantadas dentro da simbologia maçônica dos antigos membros da família....

O balé das melíferas
















Um número incalculável de plantas nativas florescem a partir de agosto. Estas flores amarelas são das mais numerosas. Cobrem quase toda a extensão da chácara. Todo cuidado é pouco. É abelha pra todo lado. Uma das maiores colméias que encontramos estava localizada no tronco caído do umbu, perto do canavial. Fora esta pequena espécie de margarida, só há a superação por parte das flores da anacauíta. Em ordem, as abelhas preferem a anacauíta, e depois, esta margarida.

A árvore do pampa

O Umbu é uma árvore grande e folhuda que cresce no pampa. Muitas vezes é solitária, erguendo-se única no descampado e atrai os campeiros, os tropeiros, os carreteiros que fazem pouso sob sua proteção. O tronco do Umbu é muito grosso, as raízes fora da terra são grandes, mas ninguém usa a madeira da árvore - não serve para nada, mesmo. É farelenta, quebradiça, parece feita de uma casca em cima da outra.

Por quê?

Reza a lenda que quando Deus Nosso Senhor criou o mundo, ao fazer as árvores perguntava a cada uma delas o que queria na terra. A laranjeira, o pessegueiro, a macieira, a pereira e assim por diante, quiseram frutos deliciosos. O pau-ferro, o angico, o ipé, o açoita-cavalo, a guajuvira, pediram madeira forte.

- E tu, Umbu, queres também frutos doces e madeira forte?

- Nada, Senhor. - respondeu o Umbu. - Eu quero apenas folhas largas para as sesteadas dos gaúchos e uma madeira tão fraca que se quebre ao menor esforço.

- A sombra, Eu compreendo - disse o Senhor. - Mas porque a madeira fraca?

- Porque eu não quero que algum dia façam dos meus braços a cruz para o martírio de um justo.

E Deus Nosso Senhor, que teve o filho crucificado, atendeu o pedido do Umbu.